SALINEIROS DE CORAÇÃO (XXV) – A TOLERÂNCIA POLÍTICA
François Jacob (1989) escreveu que todos os crimes da história são consequência de algum fanatismo. Todos os
massacres foram cometidos por virtude, em nome da verdadeira religião, do
nacionalismo legítimo, da política idónea, da ideologia justa; em suma, em nome
do combate contra a verdade do outro. Infelizmente, algumas pessoas só
se sentem bem na política depois de «eliminarem» o seu adversário. Por
manifestar a minha preferência ideológica, corro o risco de perder a amizade de
pessoas que me são caríssimas porque vivemos numa sociedade em que as pessoas
são identificadas não pelas suas qualidades intrínsecas mas pela sua cor
política. O bipolarismo político nestas ilhas chega a ser comparado às lutas
tribais de algumas regiões do nosso continente – parece que temos dificuldades
de conviver com as diferenças.
Por tolerância
entende-se «aceitação, respeito e consideração pela diferença, ou seja, a habilidade
e a disposição para admitir nos outros formas de pensar e de agir diferentes
das nossas e das quais podemos discordar». Porém, a tolerância absoluta
(niilismo) é sinónimo de ausência de convicção e de princípios morais.
A intolerância é uma ferida no rosto da humanidade. Alimentou
as cruzadas que ceifaram vidas em nome da religião e, recentemente, o
fundamentalismo islâmico vem semeando terror no mundo inteiro. No nosso caso, a
intolerância política tem transformado algumas fileiras partidárias e associações
em inimigos que visam a destruição um do outro. A intolerância nasce do medo e
da ignorância. O exercício da tolerância só é possível por meio do conhecimento
e passa pela consciência de que não somos donos da verdade.
Nestes trinta e seis anos como país
independente, o nosso grande erro é sem dúvida a intolerância. Dois exemplos
evidentes de intolerância na nossa história: após a independência (1975), a ruptura
radical com o passado relegou para segundo plano valores como a religião, respeito
pelas diferenças e a liberdade de pensamento; após a abertura política (1991),
a ruptura com o passado, a tentativa de eliminação política dos adversários, a
confusão deliberada entre a liberdade e a libertinagem.
A tolerância não se
conquista por decretos mas pela educação e comunicação, não com slogans e
discursos mas através da acção como estilo de vida.
Se olharmos para
dentro de nós mesmos, se atentarmos às limitações dos nossos dirigentes e do
partido que defendemos, iremos encontrar razões suficientes para respeitar e
ser mais tolerantes com aqueles que nos opõem.
Lidar com a diversidade, seja ela social, económica, racial ou
religiosa não é fácil. Posso gostar deste ou aquele partido político, defender
ideais que se identificam com a minha maneira de estar na vida mas nada deverá
sobrepor aos valores como a liberdade e os direitos humanos. Pessoas que honram
a Deus deveriam ter uma postura de compreensão e tolerância. A melhor forma de
honrar a Deus é respeitar o outro como um ser dotado do livre-arbítrio.
A
verdadeira tolerância está em se abrir aos outros, ter capacidade de conviver
com a diferença, tentando enxergar aquilo que essa diferença tem de melhor e
que possa contribuir para o bem comum de todos.
A
Assembleia Nacional é o espelho da nação. Os discursos e a postura dos deputados
reflectem o estado de ânimo do país real, mas, se tivermos políticos tolerantes
teremos uma sociedade tolerante. Penso que a ilha do Sal poderá ser um exemplo
disso. As grandes mudanças começam a nível local e no coração do individuo: a
diversidade cultural e religiosa da nossa ilha são exemplos dessa mudança.
Evel Rocha
1 comentário:
N gosta txeu. sen un mudansa na parlamentu,es dezejod toleransa "jamais"! Tud ta muda menus parlamentu,spedje d nasaun.diputadus vitalisiu ku 10,15,20, te 30 on d "biskat".
olisantu nateliza
Enviar um comentário