SALINEIROS DE CORAÇÃO (XXIV): QUE FUTURO PARA O AEROPORTO DO SAL?
Após uma aterragem com algum esforço na pista do aeroporto da Praia, andámos alguns metros até ao portão de chegada. Ao contrário do quadro desolador do Aeroporto Internacional Amílcar Cabral (AIAC), o aeroporto da capital estava sufocado pela presença de quatro ou cinco aviões de longo curso e o parque automóvel parecia um verdadeiro caos, arrebentando pelas costuras. O tempo de espera pela bagagem foi ocupado numa conversa com dois ilustres salineiros que não deixavam de demonstrar a sua frustrante constatação da inoperância e abandono do Aeroporto do Sal: “4.033 metros quadrados de pista mal aproveitados e à mercê dos gafanhotos do deserto”.
Evel Rocha
A economia salense, nos últimos anos, foi duplamente castigada: primeiro, a crise internacional que fustigou a economia local sem qualquer medida preventiva e, segundo, a construção de mais três aeroportos internacionais que ajudaram a agudizar a triste situação socioeconómica.
O Aeroporto da Praia teve um crescimento exponencial de movimento de cargas, de passageiros, de aeronaves às custas do abrandamento do AIAC, relegando para o desemprego centenas de trabalhadores de serviços afins e taxistas.
Sem qualquer receio de ser acusado de bairrismo exacerbado, na minha modesta opinião, Cabo Verde não precisa de quatro aeroportos internacionais pela pequenez da nossa jovem nação e debilitada economia. Do meu ponto de vista, foi um erro estratégico que as gerações vindouras terão de pagar e prevejo que, num futuro não muito distante, o AIAC será chamado a ocupar o seu lugar porque é o aeroporto com todas as condições naturais e exigidas pela aeronáutica civil. O volume de investimento na construção dos três aeroportos poderia ter sido canalizado no melhoramento da performance do AIAC, alargar a frota marítima e aérea doméstica de modo a facilitar o escoamento dos passageiros para as outras ilhas.
Hoje, fala-se em transformar o aeroporto do Sal num “hub”, um centro de distribuição de voos, papel desempenhado no passado quando a ilha era o “entreposto” do Atlântico e o gateway do arquipélago. A pretensão de transformar o aeroporto num “hub” de transportes aéreos, plataforma para carga e passageiros e controlo de tráfego aéreo não se resolve apenas com financiamentos externos se não houver um investimento de fundo capaz de oferecer às companhias aéreas e aos passageiros algo diferente daquilo que podem encontrar em outras paragens. Durante as legislativas, falou-se no Sal como um pólo de atracção de eventos internacionais de modo a atrair mais turistas mas tudo não passa de sonhos distantes quando a presente realidade é de uma ilha que vive de um turismo desenfreado e não planeado. Há a necessidade de adequação das actuais infra-estruturas e uma maior atenção à população de baixo rendimento cada vez mais vulnerável, refém da crise e das políticas de desenvolvimento. Antes de qualquer investimento a nível de infra-estruturas, é necessário lembrar que as pessoas devem ser o centro e o fim da decisão política.
Ildo0836@gmail.com
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