sexta-feira, 4 de novembro de 2011


SALINEIROS DE CORAÇÃO (XXIII) – DA DESILUSÃO À MATURIDADE POLÍTICA


Há dias, numa conversa com um amigo, este disse-me que a variante crioula da ilha do Sal - uma variante permanentemente em evolução devido às influências das outras ilhas – tenderá a ser o crioulo padrão do arquipélago. A Assembleia Municipal do Sal é um exemplo interessante: praticamente todas as ilhas de Cabo Verde estão lá representadas! Quando as discussões são mais calorosas, alguns deputados recorrem à língua mãe para se expressarem, transformando o salão nobre num «babel» crioulo.
Esta ilha, a cinderella crioula, destaca-se no panorama nacional por outras particularidades: dois terços da população salense é oriunda das outras ilhas; quase tudo o que se consome é importado; Sal é a principal porta de entrada e saída para o mundo e é a mais turística - uma ilha global.
Na esfera socioeconómica, a ilha vive um momento de desilusão. O empreendedorismo foi, desde sempre, a grande alavanca do desenvolvimento económico mas que, nos últimos anos se debate com uma enorme entrave que é a crise internacional. Os empreendedores, durante a crise, foram abandonados à sua sorte com a ausência de uma política de investimento público e a completa inoperância em termos estratégicos para salvaguardar o turismo imobiliário. Na vertente social, segue o risco do desemprego, salários em atraso, aperto financeiro e o desencanto.
Este momento de desilusão é precedido, aos poucos, pela fase de maturidade. Na vida política ela reflecte-se de uma forma extraordinária: a maturidade democrática não se traduz apenas no voto na urna mas na auto-responsabilização e numa maior cidadania. Na generalidade, o salineiro de coração deixa de se identificar com este ou aquele partido para se identificar com as necessidades prementes da sua ilha. As últimas eleições revelam um eleitorado mais consciente e ficou patente que a campanha eleitoral não se faz para eliminar adversários, mas para confrontar projectos, que a consciência do individuo não está à venda e que o poder não se conquista a todo o custo.
O voto tem de ser dotado de consciência política, isto é, da capacidade de se posicionar de maneira racional; os salenses estão a tomar consciência de que as eleições não podem e nem devem ser conduzidos na contramão da ética e da moral cristã. A suposta compra do voto não passa de um desprezo à dignidade humana por parte daqueles que apostam neste estilo de comportamento e merece toda a nossa indignação.
A fase de maturidade, embora lactente, demonstra um salense mais preocupado com as questões da cidadania, mais preocupado em vencer pelo seu próprio esforço, em acreditar mais em si próprio e exigir mais daqueles que pretendem governar o seu destino. Independentemente de quem governa, a ilha do Sal será sempre a nossa bandeira. Por ela debateremos e por ela nunca baixaremos os braços!
Evel Rocha

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