SALINEIROS DE CORAÇÃO (XXIII) – DA DESILUSÃO À
MATURIDADE POLÍTICA
Há dias, numa
conversa com um amigo, este disse-me que a variante crioula da ilha do Sal -
uma variante permanentemente em evolução devido às influências das outras ilhas
– tenderá a ser o crioulo padrão do arquipélago. A Assembleia Municipal do Sal
é um exemplo interessante: praticamente todas as ilhas de Cabo Verde estão lá
representadas! Quando as discussões são mais calorosas, alguns deputados
recorrem à língua mãe para se expressarem, transformando o salão nobre num
«babel» crioulo.
Esta ilha, a cinderella crioula, destaca-se no panorama
nacional por outras particularidades: dois terços da população salense é
oriunda das outras ilhas; quase tudo o que se consome é importado; Sal é a
principal porta de entrada e saída para o mundo e é a mais turística - uma ilha
global.
Na esfera
socioeconómica, a ilha vive um momento de desilusão. O empreendedorismo foi,
desde sempre, a grande alavanca do desenvolvimento económico mas que, nos
últimos anos se debate com uma enorme entrave que é a crise internacional. Os
empreendedores, durante a crise, foram abandonados à sua sorte com a ausência
de uma política de investimento público e a completa inoperância em termos
estratégicos para salvaguardar o turismo imobiliário. Na vertente social, segue
o risco do desemprego, salários em atraso, aperto financeiro e o desencanto.
Este momento de
desilusão é precedido, aos poucos, pela fase de maturidade. Na vida política
ela reflecte-se de uma forma extraordinária: a maturidade democrática não se
traduz apenas no voto na urna mas na auto-responsabilização e numa maior
cidadania. Na generalidade, o salineiro de coração deixa de se identificar com
este ou aquele partido para se identificar com as necessidades prementes da sua
ilha. As últimas eleições revelam um eleitorado mais consciente e ficou patente
que a campanha eleitoral não se faz para eliminar adversários, mas para
confrontar projectos, que a consciência do individuo não está à venda e que o
poder não se conquista a todo o custo.
O voto tem de ser
dotado de consciência política, isto é, da capacidade de se posicionar de
maneira racional; os salenses estão a tomar consciência de que as eleições não
podem e nem devem ser conduzidos na contramão da ética e da moral cristã. A
suposta compra do voto não passa de um desprezo à dignidade humana por parte
daqueles que apostam neste estilo de comportamento e merece toda a nossa
indignação.
A fase de
maturidade, embora lactente, demonstra um salense mais preocupado com as
questões da cidadania, mais preocupado em vencer pelo seu próprio esforço, em acreditar
mais em si próprio e exigir mais daqueles que pretendem governar o seu destino.
Independentemente de quem governa, a ilha do Sal será sempre a nossa bandeira.
Por ela debateremos e por ela nunca baixaremos os braços!
Evel Rocha
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