Salineiros de coração (XXVI) - O turismo e as comunidades locais05 Novembro 2011
O turismo na ilha do Sal aconteceu de uma forma natural e um pouco despercebido pelas autoridades local e nacionais. Quando se tomou a consciência do turismo e as suas consequências, ele já estava numa fase bastante avançada. Não houve o cuidado de (1) estudar o contexto social local antes da implantação do turismo, (2) identificar os impactos causados pela implantação do turismo, (3) regulamentar a observância da responsabilidade social de modo a beneficiar a população local que é quem mais sofre com o turismo.
Por: Evel Rocha
O Turismo Sustentável tem de ser ética e socialmente equitativo para as comunidades locais. As comunidades do destino turístico vêem crescer o turismo e novas infra-estruturas que se emergem enquanto a qualidade de vida das mesmas vai deteriorando-se, criando rupturas ambientais e sociais.
A responsabilidade social não só aumenta a auto-estima dos trabalhadores e os locais como também cria um clima de confiança e melhores resultados para a própria empresa: “a reputação de uma empresa e o valor de suas acções no mercado andam juntos” (CECATO, 2000 apud MELO NETO E FROES, 2001).
Embora a responsabilidade social seja um acto voluntário, há a necessidade de pressionar os operadores turísticos a cumprirem o dever moral e ético de compensar os locais pelos transtornos causados através da indústria turística. Lembremos que as praias, o mar e todo o ambiente envolvente, antes de ser um produto turístico, é pertença do nativo. Para evitar a hipocrisia e aproveitamento de certos filantrópicos oportunistas sugiro que haja regulamentação, aplicação e fiscalização dos actos das empresas de modo a evitar falsas acções por parte dos operadores e o espírito assistencialista por parte da população.
Alguns subsídios para o planeamento do turismo sustentável: • Os investidores devem garantir emprego estável e oportunidades de ganhos e serviços sociais às comunidades de destino, de maneira a contribuir para uma melhor qualidade de vida. Infelizmente a linha de acção do desenvolvimento turístico não prevê a defesa dos interesses sociológicos, ambientais e culturais das populações mais desfavorecidas.
• As empresas estrangeiras que investem devem ser obrigadas a recrutar uma percentagem de quadros nacionais para a gestão das mesmas;
• O salário mínimo no sector turístico deve ser superior ao que se pratica noutros sectores, tendo em conta o nível de exigência e qualidade do serviço que se presta – uma boa parte das empresas turísticas reduz os postos de trabalho para aumentar os lucros, privando muitos chefes de família do trabalho estável e diminuindo a qualidade de vida.
Ainda vamos a tempo de salvaguardar a qualidade turística que pretendemos. De nada serve ter crescimento económico se não for acompanhado do desenvolvimento social; todo o licenciamento empresarial, em Cabo Verde, deveria ser acompanhado de obrigações que fizessem com que o investidor tenha de incluir no seu programa de desenvolvimento a responsabilidade social, optimizando recursos financeiros para o desenvolvimento local.
Não se pode afirmar que se pratica um turismo sustentável enquanto as populações continuarem a ser marginalizadas e os operadores turísticos insistirem em ignorar que o bom proveito económico acontece graças às excelentes condições naturais da ilha desses trabalhadores mal remunerados onde uma boa parte vive em condições sub-humanas.
Cabe ao Ministério da Cultura, ao Ministério que tutela o turismo e à Câmara Municipal, a uma só voz, criar alternativas, buscando parceiros e outras associações como o Atelier Mar com experiência acumulada em iniciativas de empreendimentos solidários para encontrar soluções de modo a tornar o turismo verdadeiramente sustentável.
Ildo0836@gmail.com
http://poemasdesal.blogspot.com/
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