Esta é a ilha das muitas cores, da diversidade cultural, da sonoridade plurilingue. A semana do emigrante destes dois últimos anos veio provar que é possível a unidade na diversidade quando ouvimos os aplausos efusivos às manifestações culturais apresen-tadas pelos santomenses, senegaleses, britânicos e asiáticos
Vieram pessoas de todas as ilhas. Vinham em busca de trabalho e de uma vida melhor mas sempre com o desejo de regressar à «casa». Aos poucos criaram raízes e por aqui ficaram. Como eu, todos os ditos «salenses de gema» têm no sangue uma porção das outras ilhas. Sal transformou-se numa ilha global.
Ultimamente, nas conferências e fórum que passaram a ser um hábito no Sal, fala-se muito naquilo que chamamos de «orgulho salense» – os habitantes da ilha (refiro-me àqueles que nasceram e aqueles que elegeram o Sal como a sua morada) hoje, a uma só voz, defendem e exteriorizam o seu orgulho de pertença. Contudo, ainda temos um longo caminho a percorrer de modo a cimentar esse facto.
1. UMA ILHA GLOBAL
Esta é a ilha das muitas cores, da diversidade cultural, da sonoridade plurilingue. A semana do emigrante destes dois últimos anos veio provar que é possível a unidade na diversidade quando ouvimos os aplausos efusivos às manifestações culturais apresen-tadas pelos santomenses, senegaleses, britânicos e asiáticos. "Ser livre não é mera-mente ter retiradas as correntes de uns, e sim viver de um modo que respeite a liber-dade dos outros"
( Nelson Mandela).
Ultrapassámos a época em que Sal era a ilha do desterro, «ilha de gente castigod», em que os funcionários que, por força da transferência, eram obrigados a permanecerem aqui; hoje, temos um parlamento local constituído por pessoas de outros quadrantes do arquipélago que defendem a ilha de uma forma em que só podemos nos orgulhar!
2. UMA ILHA CULTURAL
A poesia insular que ao longo dos séculos permaneceu em silêncio nas sumptuosas praias salislenas e nas chãs ressequidas de Fiúra até à Ponta de Sinó que por tempos intervalados acordava, ora ao som do violão de Luís Rendall e Taninho, ora ao som do piano de Tututa e pela voz de Mirrilobo e tantos jovens que de uma forma tímida emprestavam a sua voz à poesia, parece querer acordar de vez com a feliz iniciativa dos Tempos de Serenatas que todas as semanas percorre as artérias das nossas vilas, resgatando um bem precioso que veio reforçar o «orgulho salense».
O nascimento de grupos como Cordá Dja Sal, Unidos de S. Nicolau, Apocalipse e um número incontável de jovens músicos, amantes da literatura, o resgate das festas populares, a criação de associações de carácter social são indicadores de que a ilha está a crescer e a conquistar o seu espaço no universo cultural cabo-verdiano.
3. UMA ILHA COM HISTÓRIA
Contudo, há que reconhecer, a nível histórico, estamos regredindo mas a tempo de recuperar alguns monumentos que constituem a pedra de toque deste grande edifício que é a ilha do Sal. Um exemplo paradigmático do desaparecimento de vestígios histó-ricos locais é o majestoso farol de Fiúra em ruínas. O desaparecimento lento e agonia-do das salinas de Santa Maria espelham a irresponsabilidade e o completo abandono por parte de quem de direito, favorecendo o enriquecimento fácil; as salinas de Pedra de Lume, que são sem dúvida um património inigualável na história de Cabo Verde, pelo seu esplendoroso passado e pela sua actual exuberância, corre o risco de ter o mesmo destino das suas irmãs do sul da ilha. Em Santa Maria, a casa onde morou o fundador da Ilha ainda está lá mas não sabemos por quanto tempo – aos poucos vai desaparecendo num lento e doloroso silêncio à espera que alguém se lembre que foi a partir daquela casa – a casa de Manuel António Martins – que a história do povoamento da ilha começou a ser escrita.
Quero terminar este artigo citando um dos grandes vultos da música cabo-verdiana, rendendo a minha homenagem à ilha e ao autor, Tchinôa:
Ó Dja Sal,
Onte bo foi terra de gente castigod
Hoje bo é terra de gente bem penteod
Que bem na bo ca ta largob!
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