A ilha do Sal é, hoje, uma realidade viva e em forte mutação. A evolução dos indicadores de desenvolvimento económico e social da ilha mostra, por um lado, um dinamismo impressionante e, por outro, uma realidade única em Cabo Verde. Quando comparado com o total nacional, o Sal está numa situação de relativo conforto: seu desenvolvimento é uma realidade sem paralelo nas ilhas e, provavelmente, é a única ilha em Cabo Verde que já descobriu, inequivocamente, e promove as suas vantagens competitivas. Por: Dr. Francisco Rodrigues - Pelo Instituto Nacional de Estatística.
Ilha do Sal – Dinamismo e Oportunidades
A ilha do Sal é, hoje, uma realidade viva e em forte mutação. A evolução dos indicadores de desenvolvimento económico e social da ilha mostra, por um lado, um dinamismo impressionante e, por outro, uma realidade única em Cabo Verde. Quando comparado com o total nacional, o Sal está numa situação de relativo conforto: seu desenvolvimento é uma realidade sem paralelo nas ilhas e, provavelmente, é a única ilha em Cabo Verde que já descobriu, inequivocamente, e promove as suas vantagens competitivas.
No entanto, esse desenvolvimento, efeito acentuado da actividade turística e dos transportes, tende a levar a ilha para uma especialização excessiva que depende de factores não exógenos e, por isso, de evolução imprevisível. O crescimento acentuado da população é o reflexo dessa realidade que tende a tornar a ilha dinâmica no seu desenvolvimento, mas associado a uma série de riscos, quer sociais, quer económicos,que convém analisar.
População – atracção e diversidadeA população do Sal nunca parou de crescer, ao contrário do que aconteceu com todas as ilhas de Cabo Verde (com a excepção de São Vicente). O Sal era, segundo o Censo 2000, a ilha com maior índice de atracção(1). Esta atracção faz com que seja a única em que a maior parte da sua população não é nativa. Esta razão explica, provavelmente, o facto desta ilha ser, juntamente com São Vicente, as mais urbanas de Cabo Verde e, juntamente com Santo Antão e Boa Vista, uma das ilhas em que havia mais homens do que mulheres. Por esta razão, enquanto que, em Cabo Verde, a proporção de chefes de família mulheres é de 45%, no Sal é de apenas 37,2%(2). Mas quem são os habitantes do Sal? Mais de metade da população do Sal, em Junho de 2000, não morava nesta ilha anteriormente. Isto é, dos 50.6% indivíduos que mudaram residência para o Sal, 5.3% moravam anteriormente no estrangeiro (5.3%) e os restantes 45.3% em outras ilhas do país, com especial predominância para São Nicolau (15.3%), São Vicente (11.4%), Santiago (8.8%) e Santo Antão (5.9%). Pelo contrário, as ilhas em que os residentes actuais apresentam maior peso relativo de residentes anteriores no Sal são Boa Vista (3.3%) e São Nicolau (2.1%).
A população da ilha do Sal tem crescido a um ritmo sempre superior ao da população cabo-verdiana. Apenas na década de 70 a população do Sal cresceu a um ritmo anual inferior em 0,3 pontos percentuais em relação ao total nacional. Esta evolução mostra que, de 1940 a 2010, a densidade populacional (número de habitantes por Km2) aumentará mais de 13 vezes no Sal, contra 2,4 vezes a nível nacional.
( tabela- evoluçao da população residente)
A evolução previsível da população cabo-verdiana até 2010 é no sentido de uma maior concentração em algumas ilhas. Apenas Sal, São Vicente e Santiago verão o seu peso populacional aumentar, de forma sensível, nos próximos anos em Cabo Verde(3).
( gráfico- evoluçao da Tx Crescimento media anual da populaçao)
Acresce ainda que o Sal tem uma população activa bastante jovem no contexto nacional. Enquanto que a proporção de indivíduos potencialmente activos (15-64 anos) em CaboVerde é de 67%, no Sal esta proporção é de 64%(4).
Necessariamente, a questão populacional a ser colocada para o contexto salense é a seguinte: estará a população a crescer demasiado depressa no Sal? A resposta terá de ser, na nossa modesta opinião, a seguinte: estará, se o mercado não tiver capacidade de absorver esta procura excessiva de emprego, habitação, educação, saúde, etc. A análise dos indicadores que se seguem mostrará até que ponto a evolução dos mesmos tem sido afectada de forma negativa pela pressão demográfica, com reflexos directos na qualidade de vida das populações. Vejamos!
Habitação– O Elo Fraco do Desenvolvimento O forte crescimento da população tem sido acompanhado de uma melhoria substancial dos indicadores de conforto. À semelhança do que acontece com o resto do país, Sal tem melhorado em praticamente todos os aspectos, apresentando, hoje, valores que são consideravelmente superiores aos da média nacional.
No entanto, a pressão dos movimentos migratórios não têm permitido a melhoria dos indicadores de natureza mais estrutural relacionados com a habitação e a saúde, por exemplo. Nestes aspectos, o Sal está pior que a média do país. Por exemplo, enquanto que, a nível nacional, a proporção de cabo-verdianos que têm casa própria é de 69%, em 2006, na ilha do Sal essa proporção é consideravelmente inferior (48%). A proporção de famílias que habitam casas arrendadas é de 40% no Sal contra 16% a nível nacional. As melhorias desses indicadores são, no entanto, significativos em ambos os casos, quando comparados com 2000.
Note-se, por exemplo, que a proporção de barracas no Sal, embora reduzida (4,3%), é quase quatro vezes superior à média nacional (1,1%) e com tendência para crescer. Igualmente, a proporção de indivíduos que, no Sal, habitam em partes de casa é quase o dobro da média nacional.
De facto, a pressão migratória coloca problemas prementes, na medida em que a habitação é uma realidade que resiste, de forma acentuada, à mudança, sendo um dos aspectos mais difíceis de se concretizar ao ritmo do crescimento populacional que se verifica actualmente. Mesmo tendo em conta a qualidade da construção da habitação (tipo de pavimento, de cobertura ou de parede), os indicadores do Sal são piores do que os registados a nível nacional.
(tabela indicadores de habitaçao)
Note-se que, embora o peso do Sal na população do país seja de 3,4% em 2000 e, provavelmente, de 4% em 2010, a proporção de licenças (em número, superfície ou valor, em 2002) rondava os 8% do total das licenças concedidas no país, o que, por si só, é um indicador que sintetiza a forte dinâmica do mercado habitacional no Sal(5).
Essa dinâmica não é ainda suficiente para cobrir o défice habitacional existente na ilha. Segundo um estudo encomendado, recentemente, pelo IFH, o défice habitacional no Sal é de, aproximadamente, 2.900 casas para 2005 e de 3500 em 2010(6). Em resumo, o défice habitacional tem em conta a intersecção das seguintes características: cobertura, parede e pavimento do alojamento não adequados, barracas, partes de casa, alojamento cedidos ou arrendados, densidade excessiva por domínio e carência de infra-estruturas no alojamento.
(tabela défice habitacional )
Conforto e Qualidade de VidaDe positivo, no Sal, são as condições de conforto, particularmente o acesso a meios de informação e de comunicação. Na verdade, neste aspecto, o Sal destaca-se pela positiva no contexto nacional, apresentando valores bastante acima da média. Estes indicadores são o reflexo de se ter já atingido um nível de conforto bastante avançado na ilha, reflexo também da incidência da pobreza mais baixa do que no resto do país. No entanto, provavelmente, com o forte afluxo migratório, estes indicadores poderão começar a apresentar uma tendência de quebra ou de estabilização nos próximos anos.
(grafico indicadores de posse de bens em 2006)
Alguns bens que são uma raridade nas famílias caboverdianas têm uma disseminação bastante importante no Sal, tais como o automóvel, computadores, micro-ondas, arca congeladora (o dobro ou mais do dobro da média nacional), ou máquinas de lavar roupa, (o triplo da média). Para além disso, o Sal é a única ilha que tem mais telemóveis do que telefones fixos dentro dos agregados familiares(7).
Igualmente, as condições de saneamento são bastante melhores do que no contexto nacional. Desde logo, a recolha de resíduos sólidos é efectuada, na sua esmagadora maioria, para contentores. Cerca de 98% das famílias salenses evacuam-no dessa forma, contra apenas 43% a nível nacional. Uma diferença significativa ocorre também ao nível da evacuação de águas residuais para esgotos ou fossas sépticas, sendo que a proporção no Sal é de 74% contra 30% a nível nacional.
( grafico condiçoes de habitabilidade em 2006 )
Face à precariedade da situação de acesso à água potável em Cabo Verde, o Sal destaca-se francamente, sendo que 99% das famílias têm acesso a uma fonte de água potável e mais de 9 em cada 10 famílias têm esse acesso assegurado a menos de 15 minutos de distância. Todas as famílias gastam, no máximo, 30 minutos para acederem à água potável. Essa proporção é de 92% a nível nacional.
Educação em Alta e Saúde PericlitanteA apreciação qualitativa dos salenses parece contrariar um pouco a ocorrência quantitativa de alguns dados. A população salense, pese embora a longa tradição de reclamação dos serviços de saúde, parecer ter uma apreciação positiva da qualidade destes serviços.
Aparentemente, a pressão migratória tem estado a registar algum impacto negativo ao nível de outros indicadores. É, claramente, o caso dos indicadores quantitativos de saúde, que também tendem a apresentar uma evolução contrária à que seria de se esperar. Por exemplo, o défice de médicos por habitante tem estado a agravar-se de forma bastante mais acentuada no Sal do que a nível nacional. De 1990 a 2004, o número de médicos por habitante deteriorou-se, a nível nacional, em 28%. No Sal, essa deterioração foi superior a 300%.
(tabela indicadores de saúde)
Ao nível das camas por habitante, o padrão foi semelhante. Enquanto que, no plano nacional, houve uma melhoria sensível deste indicador (melhorou 21% nesse período), no Sal ocorreu uma deterioração de 68%.
No entanto, a proporção dos indivíduos satisfeitos com os serviços de saúde no Sal aproxima-se dos 91%, ligeiramente acima da média nacional (89%). O preço não é uma das principais razões da insatisfação de alguns utentes, ao contrário do que se verifica à escala nacional. No entanto, os salenses reclamam os tempos de espera elevados e a falta de medicamentos.
A taxa de alfabetização (15 anos e mais) era de 90% em 2006, contra 79% a nível nacional, embora, para a população dos 15-24 anos, essa taxa seja muito semelhante em todo o território nacional, reflexo dos fortes investimentos havidos nos últimos 30 anos no sector.
A proporção de indivíduos que frequentavam um curso médio ou superior em 2006 era de 6,1%, acima dos 3,4%, da média nacional. Essa evolução é bastante positiva e inverte a tendência verificada até 2005, o que indicia que a atracção da ilha já não ocorre apenas para o pessoal menos qualificado, mas também para pessoal com níveis de elevada qualificação. Essa tendência merece ser seguida por resultar num aumento da produtividade na ilha mas também num maior poder reivindicativo.
O grau de satisfação com a qualidade da educação no Sal é bastante elevado, atingindo praticamente a unanimidade. Segundo o QUIBB, o nível de satisfação com os serviços da educação pré-escolar, básico e secundário varia entre os 90% para o secundário e os 100% para o pré-escolar. Estes valores são consideravelmente superiores à média nacional. Dos poucos insatisfeitos, as razões dessa insatisfação prendem-se com o não funcionamento das casas-de-banho, com a falta de água e com a falta de segurança. Ao contrário do resto do país, apenas 10% criticaram o preço excessivo das propinas (37% a nível nacional).
Pobreza e EmpregoO nível de vida relativamente elevado para o contexto nacional, associado à oferta de trabalho remunerado, faz com que a ilha do Sal seja aquela com menor incidência da pobreza em Cabo Verde. A proporção de pobres é de 12,9%, contra 36,7% a nível nacional. A proporção de muito pobres é de 6%, contra 19,7% a nível nacional. No Sal, residem, aproximadamente, 2.200 dos 172.000 pobres existentes em Cabo Verde(8).
Aparentemente, essa situação de menor pobreza relativa deve-se à existência de emprego e oportunidades de trabalho e não à existência de outras fontes de rendimento. Se analisarmos a estrutura das famílias salenses, podemos confirmar que a maior parte provém de ilhas que são afectadas de forma acentuada pela pobreza, especialmente Santo Antão. Mas curiosamente, embora os naturais do Sal sejam minoritários na Ilha, cerca de 59% dos pobres nasceram no Sal, 25% em São Nicolau, 14% em Santo Antão e 2% no estrangeiro. Ou seja, a pobreza afecta mais os nativos do Sal do que os migrantes da ilha.
Pode-se confirmar que a contribuição das remessas dos emigrantes para a redução da pobreza na ilha do Sal não é mais importante que nas restantes ilhas. Embora tenha crescido à taxa média anual de 5,9% entre 2001 e 2005, o peso das remessas no Sal tem tendência a estabilizar-se, representando, em 2005, 6,4% do total das remessas nacionais, apenas mais uma décima de ponto percentual que quatro anos antes.
( tabela remessas de emigrantes)
Em 2005, em média, cada indivíduo no Sal recebeu cerca de 3.000 escudos mensais provenientes das remessas do exterior, cerca de 50% acima da média nacional, o que não deixa de ser um contributo relativamente importante no contexto do país.
Aparentemente, confirma-se que a baixa incidência da pobreza deve-se à existência de emprego remunerado e a um maior grau de qualificação. Pese embora o facto de apenas 13% da população ser pobre, segundo os dados do IDRF, cerca de 57% da população salense considera-se pobre. A nível nacional, essa proporção é de 78%. No entanto, embora se considerem pobres, entre 70 e 79% destes reconhecem que nunca lhes faltaram alimentos, água potável, remédios e assistência médica, energia para cozinhar, nem dinheiro para a educação.
Aliás, outros indicadores infirmam, de alguma forma, essa percepção negativa da pobreza. Cerca de 15% dos salenses comeram num restaurante 30 dias antes da recolha dos dados do QUIBB (mais 50% do que a média nacional), cerca de 32% viajaram de férias, 51% compraram roupa nova e 26% foram ao cinema. Todos esses valores situam-se muito acima da média nacional. Mais ainda, 42% dos salenses pouparam dinheiro nos últimos 12 meses, contra 29% a nível nacional. Muitos dos indicadores favoráveis do Sal devem-se à dinâmica económica que tem resultado em mais empregos, sendo estes melhor remunerados. O tipo do emprego mostra exactamente isso. Senão vejamos.
O Sal, juntamente com a Boavista, é uma das ilhas com menor taxa de desemprego em 2006. Com efeito, a taxa de desemprego no Sal situa-se em 9%, muito inferior à de 21% a nível nacional(9). Esta taxa tem sido, tradicionalmente, mais baixa no Sal, pese embora o forte crescimento da população na ilha. Os transportes, a construção associada ao turismo e a procura da ilha como destino de férias fazem desta ilha um pólo de atracção bastante importante em Cabo Verde.
(tabela indicadores sociais)
Um indicador bastante relevante do conforto das famílias salenses é dado pelo nível e pela estrutura das despesas das famílias no Sal. Nesta ilha, cerca de 30% das despesas são realizadas em produtos alimentares e bebidas não alcoólicas, um valor 7 pontos abaixo da média nacional. Ainda no Sal, o peso das despesas em comunicações e em restaurantes, hotéis, cafés e similares é quase o dobro da média nacional, o que indicia alguma disponibilidade financeira para gastar em bens e serviços que não são de primeira necessidade
( gráfico repartiçao das despesas das familiasno sal)
As famílias salenses gastaram em 2002 cerca de 2,8 milhões de contos, o equivalente a 6,1% do total dos 46,5 milhões de contos gastos em Cabo Verde. Significa isso que, em média, as famílias salenses gastaram 61 contos mensais, praticamente mais 50% do que a média nacional, que se situa em 41 contos mensais.
(tabela despesas das familias em 2002)
De notar que o peso das famílias do Sal é de apenas 4% do total nacional, pelo que a proporção das despesas das famílias é quase 50% do seu peso em termos de número em Cabo Verde, o que confirma o padrão de vida relativamente mais elevado na ilha no contexto nacional.
De notar, pela negativa, a forte diferenciação nas despesas. Enquanto que, em Cabo Verde, os pobres e muito pobres representam 10,3% das despesas, no Sal esta proporção é de apenas 2,4%, o que indicia uma distribuição pouco equitativa do rendimento.
A natureza do emprego no Sal é, radicalmente, oposta à do país, no seu todo. Enquanto que o maior empregador, a nível nacional, é o sector agrícola (30,4% dos empregados), no Sal, esta proporção é de apenas 4,1%. São importantes ainda, a nível nacional, o comércio (15,4%), a Administração Pública (10,9%) e a construção (8,3%). No Sal, pelo contrário, o alojamento e a restauração empregam mais de 1 em cada 4 trabalhadores (28%, contra 3% a nível nacional) e os transportes e comunicações empregam 11,9% dos empregados, contra apenas 4,9% à escala nacional.
A Administração Pública e o comércio têm no Sal um peso quase equivalente ao nível nacional. A construção é, ainda, relativamente mais importante no Sal do que no contexto nacional. Ou seja, a estrutura do emprego no Sal mostra uma maior concentração em algumas actividades, todas elas relacionadas, de alguma forma, com o turismo, enquanto que, a nível nacional, existe uma maior dispersão pelas diferentes actividades. Esse aspecto pode ser um risco para um desenvolvimento sustentado. A especialização não é, normalmente, compatível com a sustentabilidade.
No Sal, em 2005, o desemprego foi gerado, sobretudo, pelos estabelecimentos hoteleiros (24,3% dos desempregados que já trabalharam provêm deste sector, contra 5,2% a nível nacional). As famílias são, ainda, fortemente, responsáveis pelo desemprego no Sal (17,6% dos desempregados, contra 10,9% a nível nacional), contribuindo, desta forma, para o desemprego das empregadas domésticas.
Um importante contributo para o desemprego no Sal vem do sector da construção, embora esta proporção seja bastante inferior à média nacional (16,6% e 24,6%, respectivamente).
No Sal, a proporção de trabalhadores que laboram no sector empresarial privado é mais do dobro da média nacional, mostrando a força do sector privado nesta ilha. Mais de metade (55,5%) dos trabalhadores do Sal trabalha no sector empresarial privado, contra 22,9% (menos de metade), a nível nacional. A este nível, são ainda importantes os trabalhadores por conta própria sem pessoal ao serviço (muito por força do sector primário), representando cerca de 27% dos trabalhadores (12,8% no Sal).
( tabela empregados e desempregados porsituaçao na profissao)
A reduzida influência dos trabalhos públicos no Sal é demonstrada pela proporção reduzida de indivíduos desempregados que trabalharam, pela última vez, na Administração Pública. Essa proporção é de apenas 0,6%, contra 10,3% a nível nacional. Sendo o maior empregador, é, também, o sector privado empresarial o maior desempregador no Sal. Uma característica distintiva do Sal é, também, a maior qualificação da sua mão-de-obra. A proporção de indivíduos empregados sem qualquer qualificação é, nesta ilha, de 18,9%, contra 32,2% no plano nacional. A proporção de indivíduos empregados com nível superior ou médio é também ligeiramente superior à média nacional. É, ainda, no Sal que se verifica a menor proporção dos desempregados sem qualquer qualificação (34,1%, contra 41,5% a nível nacional), o que é um factor facilitador na promoção de políticas activas de emprego.
Tecido empresarial – gerador de emprego e competitivoPode-se concluir que a situação social do Sal é reflexo da situação económica, relativamente boa, da ilha, no contexto nacional. De facto, inúmeros são os indicadores que apontam no mesmo sentido, com melhoria substancial ao longo dos anos.O número e a produtividade das empresas têm tendência a aumentar, promovendo, assim, mais criação de riqueza e de emprego. Segundo os dados do Recenseamento Empresarial, entre 1997 e 2002, o número de empresas no Sal aumentou 45% (a nível nacional, reduziu-se em 8%) e estas empresas geraram mais 51% dos empregos, quando, no plano nacional, houve uma redução ligeira (0,5%). Mais importante que essa evolução é o facto dessas empresas terem gerado um volume de negócios de, aproximadamente, 10 milhões de contos em 2002, mais 120% que cinco anos antes. Essa evolução é bastante mais importante que a evolução a nível nacional, que foi de um crescimento da facturação em 62%.
(tabela sector empresarial)
Vale a pena ter em conta os seguintes aspectos: por um lado, a produtividade das empresas e do trabalho aumentou, de forma significativa. Por outro lado, no Sal, essa evolução foi menos importante que a nível nacional, o que significa que, embora a evolução tenha sido positiva, no Sal, ela foi relativamente menos positiva. Provavelmente, a predominância do turismo (ainda uma actividade bastante intensiva em mão-de-obra) impede que os ganhos de produtividade sejam maiores. Mesmo assim, a produtividade das empresas aumentou 52% no Sal (contra 77% a nível nacional) e a produtividade dos trabalhadores aumentou 46%, contra 63% a nível nacional.
(tabela estrutura do sector empresarial 2002)
Das empresas do Sal, em 2002, cerca de 1 em cada 3 eram do sector do alojamento e da restauração, reflectindo, assim, a especialização da ilha na actividade em que é mais competitiva. Este sector representava ainda cerca de metade do emprego e quase 1/3 do volume de negócios das empresas salenses. Apenas os transportes, o comércio e a construção têm algum peso relevante.
O sector industrial é incipiente e o sector primário é residual. O Sal, à semelhança do país, é fortemente terceiraizado, sendo os serviços responsáveis por mais de 80% do volume de negócios das empresas. O comércio tem um peso extremamente baixo no Sal quando comparado com o peso que tem a nível nacional.
Esta estrutura irá, provavelmente, alterar-se profundamente com o arranque das obras previstas nos investimentos do domínio da imobiliária turística. De facto, nos próximosanos, estão previstos investimentos nessa área que rondam os 2 mil milhões de euros. Estes investimentos, caso sejam concretizados, darão não apenas uma cara nova ao Sal mas são também susceptíveis de promover um crescimento popupopulacional sem precedentes no Sal, com todas as consequências benéficas e perversas do processo.
Na verdade, estes investimentos propõem a criação de marinas, hotéis de 5 estrelas, um parque habitacional moderno e de padrão internacional e mais de 6 mil postos de trabalho directo, o que, a concretizar-se, implica, praticamente, a duplicação da população activa do Sal. Os planificadores terão fortes dores de cabeça no futuro próximo na Ilha. Considerando todas as críticas que tal processo pode implicar, não deixa isso de ser demonstrativo da pujança económica que se pretende para a ilha, parte significativa dela promovida por empresários nacionais.
Turismo e transportes de mãos dadasClaramente, a vocação do Sal está no turismo, nos transportes aéreos e na construção civil, sendo estes dois últimos sectores, em parte, associados ao turismo. Certamente, não está na agricultura. A população agrícola no Sal, segundo os dados do Censo Agrícola do MAA, é equivalente a 0,9% da população agrícola cabo-verdiana. No domínio dos transportes aéreos, o Aeroporto Internacional Amílcar Cabral viu aumentar ligeiramente o seu peso em termos de movimento de aeronaves e de passageiros, tendo, no entanto, perdido peso em termos de carga movimentada. Entre 1999 e 2006, o aumento de aeronaves no Sal cresceu à taxa média anual de 4,4%, contra 3,7% a nível nacional, tendo passado o AIAC a movimentar 43% das aeronaves em 2006, contra 41% em 1999.
( tabela movimento de aeronaves nos aeroportos e aeródromos)
O mesmo padrão se verifica a nível do movimento de passageiros, tendo o AIAC aumentado, de forma ligeira, o seu peso à escala nacional, sendo este ainda mais importante do que a nível do movimento das aeronaves. De facto, este aeroporto representava, em 2006, mais de metade do total nacional (55%). Este peso é semelhante ao peso do total da carga movimentada (54%, em 2006). No entanto, a este nível,ocorreu uma redução sensível do peso do AIAC.
(tabela movimentos de passageiros nos aeroportos e aeródromos)
(tabela movimento de cargas nos aeroportos e aeródromos)
O mesmo padrão se verifica a nível do movimento de passageiros, tendo o AIAC aumentado, de forma ligeira, o seu peso à escala nacional, sendo este ainda mais importante do que a nível do movimento das aeronaves. De facto, este aeroporto representava, em 2006, mais de metade do total nacional (55%). Este peso é semelhante ao peso do total da carga movimentada (54%, em 2006). No entanto, a este nível, ocorreu uma redução sensível do peso do AIAC.
( tabela movimento nos portos)
Confirma-se, por esses dados, que a vocação da ilha é para os transportes aéreos, embora o esforço de investimento na ilha tenha proporcionado um crescimento significativo do transporte marítimo, sobretudo no concernente ao movimento de mercadorias. Há fortes indícios que permitem afirmar que essa evolução terá sido, nos últimos dois anos, ainda mais acentuada.
( tabela movimento nos portos)
No entanto, o motor impulsionador de toda esta actividade no Sal é o turismo, actividade cada vez mais competitiva na ilha e geradora de efeitos de arrastamento económico não negligenciáveis. O turismo, entenda-se, o movimento nas unidades de alojamento, mostra que as 32 unidades de alojamento no Sal, embora representassem, em 2005, apenas 19% do total nacional, eram responsáveis por, praticamente, metade do pessoal ao serviço, da capacidade de alojamento, do número de camas e das entradas, e representavam mais de 60% das dormidas. Acresce ainda que a taxa média de ocupação no Sal é mais de 30% superior à média nacional.
( grafico peso da ilha do sal no turismo em cabo verde)
Embora não sendo mais do que uma mera curiosidade, o movimento mensal dos turistas no Sal, nos meses a partir de Julho, faz com que, em acumulado, o número de turistas no Sal ultrapasse largamente a população do Sal naqueles meses, especialmente no Verão, que ultrapassa os 25 mil hóspedes.
(grafico evolução mensal do numero de hospedes nos estabelecimentos hoteleiros do sal)
A evolução entre 2000 e 2005 mostra que, apesar da evolução dos transportes aéreos e marítimos e da descoberta de outros destinos em Cabo Verde pelos turistas, o Sal tende a ganhar peso no turismo nacional, em termos de dormidas e entradas, mesmo que a oferta de camas, quartos e capacidade tenda a estabilizar o seu peso.
A dinâmica empresarial está, fortemente, retratada na evolução da produção de electricidade na ilha do Sal. De facto, a produção e o consumo de electricidade aumentaram no Sal e em Cabo Verde, entre 2000 e 2005, 105% e 66%, respectivamente. Assim, o aumento no Sal foi, praticamente, o dobro do aumento a nível nacional. Mas os resultados mostram que é nas empresas que o consumo de electricidade mais aumentou. Este aumento foi, nesse período, de 234% (contra 95% em Cabo Verde), mais do dobro do consumo do Estado e quase 5 vezes os outros consumos (que incluem o consumo das famílias). Este indicador confirma, assim, a forte dinâmica da actividade empresaria na ilha.
(tabela capacidade instalada , produçao e consumo de electricidade )Esses resultados indiciam que, apesar de tudo, o crescimento demográfico acentuado tem permitido o crescimento da economia local, a melhoria do padrão de vida e do conforto das famílias e um maior peso estratégico da ilha no contexto nacional. No entanto, duplicar a população de 7 mil para 15 mil pessoas é bastante mais fácil, em termos de resposta, do que duplicar de 15 para 30 mil. Embora não seja o caso, o Sal continua a crescer bastante depressa, associando a este crescimento fenómenos perversos típicos. Caso típico é a criminalidade que, em 2005, e em termos per capita, é três vezes superior à média nacional. O mal menor é que, na sua maioria, esses crimes, à semelhança de Santiago, são cometidos contra a propriedade, ao contrário das restantes ilhas, em que são cometidos contra as pessoas, reflexo da situação de melhor conforto material existente na ilha.
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