O Fórum Que Ensino superior Para o Sal foi marcado por dois momentos: primeiro, a declaração, nas entrelinhas, da ministra da Juventude que a população deverá preocupar-se mais com acções de «capacitação dos recursos humanos» num claro apelo à formação profissionalizante e, segundo, a apresentação dos resultados de um estudo onde o apresentador diz que em 311 inquiridos na ilha, apenas um se interessa por uma formação na área de turismo.
É legítimo a reivindicação da população. O sonho de qualquer estudante é ter um curso superior, o desejo de qualquer profissional é a sua auto-realização. Na visão de Maslow, cada indivíduo é munido da vocação inata à auto-realização (Maslow, 1970). Essa vocação, o topo da pirâmide, compreende o uso activo de todas as qualidades e habilidades, além do desenvolvimento e da aplicação plena da capacidade individual.
No espaço de pouco mais de um ano, foram realizados três fóruns e mais três palestras sobre o ensino superior e todos se convergiram ao mesmo resultado: a Ilha do Sal tem todas as condições para tal. Quanto ao estudo realizado pela Afrosondagem, a amostragem não é representativa da população tendo em conta a conveniência da mesma e o apresentador teve o cuidado de chamar a atenção para as limitações do trabalho que de modo nenhum deverá substituir a necessidade de um estudo de viabilidade com bases cientificas. As informações da RTC e os comentários nos sites online demonstram a ligeireza da comunicação social no tratamento deste estudo querendo de uma forma intencional legitimar os argumentos daqueles que acham que a ilha não tem condições para o ensino superior.
A Ilha vive um momento crucial na sua trajectória. O desenvolvimento deve ser medido, acima de tudo, do ponto de vista HUMANO e a presença do ensino superior representaria a alavanca capaz de marcar a diferença. A CRIAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR NO SAL NÃO IMPLICA NECESSARIAMENTE A PRESENÇA DE UMA UNIVERSIDADE. É mais fácil a implementação de pólos universitários ou de um instituto politécnico com um projecto de desenvolvimento académico e científico, investindo no conhecimento, na criação do saber, nas competências que qualificam a sociedade civil e na inovação, mas acima de tudo com uma visão direccionada ao empreendedorismo. A estratégia da sua implementação deverá ter em conta que é necessário oferecer à população estudantil um ensino diferenciado àquilo que o mercado nacional vem oferecendo, apostando num ensino especializado, rompendo com a ortodoxia existente, pensar em termos de cooperação com outras escolas superiores já existentes e com as necessidades do mercado local – tendo o turismo como o principal foco de estudo.
A iniciativa dos salenses esteve sempre à frente das estratégias e da visão política dos sucessivos governos. Foi assim com a criação do liceu (antigo Externato), aconteceu com o aparecimento das indústrias salineira e turística e há de ser sempre assim enquanto continuarmos a registar a falta de visão, de estratégia e de vontade política. A última grande machadada no orgulho salense é sem dúvida a não construção da Escola de Hotelaria e Turismo. Tudo indica que brevemente teremos a primeira leva dos formandos no mercado de trabalho e nenhum deles pertence à ilha salineira. De certeza que estarão no Sal procurando o seu primeiro emprego.
Evel Rocha
Ildo0836@gmail.com
http://poemasdesal.blogspot.com/
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